O Grande Clênio Souza
Clênio Souza, o pequeno grande pintor do Planalto Serrano, do Brasil, guardou para sempre seus pincéis, tintas e telas e partiu para os estúdios celestiais. Morreu em Lages, num destes outonos que ele colocava muitas vezes como fundo de suas belas paisagens translúcidas.
Foi um artista do povo. Não um primitivista, mas um sofisticado pintor, inspirado nas mais diversas escolas, mas com um estilo próprio, inconfundível.
Como todo grande e autônomo artista criou um mundo pessoal, com seus personagens "Clenianos".
Clênio Souza não tinha medo de telas! E das tintas. Pintor violento, sem preocupação de agradar esteticamente o observador - ele tentou, através de obra vultuosa, desvendar o funcionamento real do pensamento.
O saudoso Flavio Aquino, na revista Manchete, ao reproduzir um dos seus quadros antigos comparou-se a Siron Franco, o mago de Goiás. Mas sua última fase lembrava o "maldito" inglês Francis Bancon.
Seus quadros trazem inserido um espírito de revolta contra os sistemas. No culto dos sonhos, dos instintos, da nostalgia, ele se aproximou dos mestres mais fantásticos do passado recente. Cultivou a surpresa, o escândalo, o choque imediato e uma visão fantasmagórica do destino. Um gênio em busca da imagem obsessiva, de paisagens interiores fantasmais e oníricas.
Combinações insólitas permeiam sua obra, que merecia ser mais divulgada e conhecida. Mestre Martinho de Haro, o maior pintor catarinense, o admirava. Tivesse Clênio oportunidade de expor no Rio de Janeiro ou em São Paulo, afirmo que todos os seus quadros seriam vendidos na primeira noite! Vivendo na província, o pintor "maldito" dos sertões de Serra-acima não encontrou se Mecenas. Mas continuou insistindo com pintura estranha e pungente, dramática e densa, surreal e forte, como e pequeno grande homem a remar contra a correnteza.
O grande pintor do Planalto Catarinense, depois de atravessar uma fase "maldita", da linha do mestre inglês Francis Bacon, adentrou pelos caminhos labirínticos da escultura de forma mais dramática ainda. Sias esculturas não são divertimento, mas uma engrenagem que parece querer esmagar o espectador. Visivelmente influenciado pela escultura milenar africana, pelos monstros do Benin, d'Angola e do Alto Congo. São mulheres fartas, férteis, presas à terra, ao tempo e às tempestades.
Até que foi vencido - cedo demais, pela Parca. Que cortou o fio de sua criatividade em pleno florescimento.