Chapecó e Joinville se tornam arquidioceses em Santa Catarina
' ' : ' Imagem: CNBB'
No dia 05 de novembro o Estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, recebeu com alegria a notícia de criação de duas novas arquidioceses: Joinville e Chapecó. Com isso, o Regional Sul IV da CNBB, composto por dez dioceses, passou a contar com três arquidioceses, três arcebispos e três províncias eclesiásticas: Florianópolis (Tubarão e Criciúma), Joinville (Rio do Sul e Blumenau) e Chapecó (Lages, Caçador e Joaçaba).
Com a ereção das novas províncias e a nomeação dos arcebispos titulares, o paranaense D. Carlos Bach (Joinville) e o catarinense D. Odelir J. Magri (Chapecó), as respectivas catedrais foram elevadas à categoria de Igreja Metropolitana. Por conta disso, as demais dioceses das províncias eclesiásticas, em linguagem canônica, são designadas como sufragâneas (subordinadas).
A reestruturação da Província Eclesiástica de Florianópolis pelo Papa Francisco, em certo sentido, chegou a muitos como um evento surpresa. Há décadas o assunto vinha sendo comentado nos bastidores, falava-se de alguns estudos, mas até então nada em concreto.
Repentinamente acordamos com a grande novidade, talvez, no contexto regional, o acontecimento eclesial mais significativo do século XXI. Obviamente que foi algo estudado, devidamente planejado, como sempre se faz na Igreja. Entretanto, nas Igrejas locais, ecoou mais como um ato administrativo próprio das instâncias eclesiásticas.
A criação de “novas” estruturas eclesiais com a intenção de promover “reestruturações” na vida da Igreja será sempre um tema complexo, verdadeiramente difícil e somente o tempo poderá dizer aquelas foram acertadas ou não.
Com um olhar voltado para a realidade eclesial e social das cidades de Joinville e Chapecó, não cabe dúvida de que, a Igreja Católica, nessas áreas visivelmente metropolitanas de Santa Catarina, precisava de uma atenção evangelizadora diferenciada.
Joinville (173 anos), situada no litoral norte, a maior cidade do estado em população, frequenta o ranking das 25 cidades mais ricas do país e é considerada uma das economias mais pujantes do Brasil. Como diocese, juntamente com Lages, foi criada em 1927, sendo instalada em 1929.
De Joinville, de modo especial, vem naturalmente à memória D. Gregório Warmeling, grande em todos os sentidos, mas ainda maior no campo do ensino religioso e do ecumenismo. Esteve à frente da Igreja diocesana de Joinville de 1957 até 1994 (nada menos que trinta e sete anos). Também se faz presente o seu ilustre sucessor, oriundo do presbitério da Diocese de Lages, D. Orlando Brandes, hoje, o conhecido e bem lembrado arcebispo de Aparecida, coração Mariano do Brasil.
Chapecó (107 anos), no extremo oeste de Santa Catarina, literalmente na periferia do estado, resistiu com esforçado empenho às distâncias e simplicidades da capital do Estado e tem se destacado por uma trajetória regional/nacional bastante movimentada. Entre outros, desperta atenção por seus investimentos nas áreas da economia, gestão e sustentabilidade. É o munícipio com a maior população na região e se tornou um centro de referência para a saúde e a educação superior no oeste catarinense e no estado.
A Diocese de Chapecó, criada em 1958 e instalada no ano seguinte, foi desmembrada, em sua maior parte, do imenso território da Diocese de Lages.
Dos bispos de Chapecó, sobressai a grandeza eclesial de D. José Gomes e sua recordada atuação na região de 1969 a 1998 (vinte e nove anos). Foi um bispo visionário que corajosamente se antecipou em promover, na Igreja regional e no Brasil, uma Igreja “pobre e com os pobres”. Seu estilo pastoral e a profunda amizade mantida com D. Oneres Marchiori influenciou significativamente o bispo de Lages, e juntos animaram a pastoral social no regional Sul IV.
Considerando estes poucos aspectos, Joinville e Chapecó foram agraciadas com este reconhecimento oportuno e, por certo, necessário, de se tornarem Igrejas Metropolitanas. Dessa maneira, receberam a missão episcopal de promover uma atenção diferenciada em uma realidade contextual com grandes desafios e muitas possibilidades.
Enquanto isso, as dioceses de Lages e Caçador, na Serra Catarinense, continuam sendo dioceses sufragâneas. Situadas na zona limítrofe, periferia das três províncias pertencente à Igreja, são as Igrejas particulares que reúnem a maioria da população dita “cabocla” e Santa Catarina. Historicamente, a cultura cabocla, bastante dada a uma específica e valorosa piedade popular, permaneceu marginalizada por trazer visível as marcas de diferentes etnias, sobretudo, por lhe faltar os traços de uma descendência estrangeira mais “purificada”, como preferem alguns. Não poucas vezes é uma cultura e uma Igreja popular que sofre discriminações.
Na Diocese de Lages, inexplicavelmente, o rosto da Igreja cabocla vem sendo descaracterizado muito rapidamente e, nesse ritmo, tende a desaparecer. Resiliente, a Diocese de Caçador, por exemplo, mantém ativa uma belíssima frente de trabalho conhecida como “Pastoral Cabocla”.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos por Vitor Hugo Mendes.