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VIROU HISTÓRIA

Crime: A morte dos caixeiros viajantes

23/05/2023 10:45

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O Virou História trouxe nesta semana uma história curiosa de dois amigos que foram mortos na Estrada Velha, logo depois da conhecida Zona Velha, antiga BR-2.
Eles eram Ernesto Canozzi e Olintho Pinto Centeno, eram comerciantes na cidade de Lages, foram assassinados pelos italianos sicilianos Thomaz Brocatto e Domingos Brocatto no dia 1º de maio de 1902. Ernesto, teve os olhos perfurados e Olintho o esmagamento do crânio. De acordo, com as investigações da época, os corpos dos comerciantes foram encontrados nas proximidades da BR-2. Apesar de haver uma sentença condenatória, passados mais de cem anos, o crime ainda não se deu por solucionado, devido à complexidade e as circunstâncias em que ele aconteceu.
Uma das hipóteses do crime, seria passional. Ernesto Canozzi teria uma carta de recomendação de Vidal Ramos para casar-se com Emília Ramos, jovem pertencente a uma das famílias mais ricas da cidade. Um dos assassinos, seria apaixonado pela jovem Emília, inconformado, decidiu cometer o crime. Outra hipótese, seria uma divida não paga em favor de Thomaz e Domingos Brocatto.
Todavia, foi o imaginário religioso que tornou este fato como um dos crimes mais memoráveis da cidade de Lages. Os corpos de Ernesto Canozzi e Olintho Pinto, foram enterrados no Cemitério Municipal Cruz das Almas. Os túmulos no cemitério municipal e o local do assassinato na Br-2, tornaram-se locais de procissão e culto, todos os anos, pessoas das mais variadas idades, encontram-se acendendo velas e agradecendo por uma graça alcançada. Eles estão entre os "santos milagreiros da cidade".
Há um relato da época, dizia que "no dia do velório o sangue das vítimas começou a pingar em um dos caixões" - uma senhora, que estava presente, disse que aquele era um sinal de que o autor do crime estaria presente no velório.
Talvez, a compaixão social se deve a forma violenta como eles foram mortos. Isto despertou na população um sentimento de piedade, e por terem perdido a vida sem motivo aparente, foram considerados uma espécie de "mártires" das pessoas de bem.

Local de devoção
Para exercitar a fé, as pessoas tem recorrido também a eles para pedir por milagres. O fato é que no local em que foram mortos existe um santuário muito conhecido na região e visitado por pessoas que já se tornaram fieis. No cemitério onde estão sepultados existe uma corrente no jazigo em que as pessoas tiram uma corente de um prendedor para fazer pedido e o próximo que por a corrente tem direito a fazer pedido também.

Visão histórica
"O crime dos irmãos Canozzi, mostra um substrato da vida pública e privada dos lageanos daquela época. Revela, uma cidade em transição cultural entre os discursos de modernização e o conservadorismo elitista. Ser estrangeiro em uma cidade que foi profundamente marcada pelo mandonismo local, em certa medida, era algo que os diferenciava dos demais cidadãos. Contudo, Ernesto Canozzi e Olintho Pinto Centeno, queriam fazer parte daquela sociedade e mantiveram, por algum tempo, laços sociais e comerciais com ela. Como diz Sara Nunes, no livro Caso Canozzi: um crime e vários sentidos, "os imigrantes que chegavam a Lages não estavam em procura de terras ou fartura", então, pois, estavam à procura do quê? Passados mais de cem anos, os eventos que motivaram aquele crime, são objetos de discussão até hoje. O motivo teria sido passional ou por uma dívida? Apesar de haver uma sentença penal condenatória, pairam dúvidas sobre os reais motivos de Thomaz e Domingos Brocatto. A história e os interessados pelo caso Canozzi tem mais a dizer sobre isso. Graças à religiosidade, eles se mantêm vivos na memória popular", Lenilson Maia, historiador.


FONTE ACADÊMICA

NUNES, Sara. Caso Canozzi: um crime e vários sentidos. Dissertação de Mestrado. UFSC: Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: 2007


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