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Justiça complica futuro do Inter de Lages: 41 intimações afastam apoio financeiro e tiram clube da disputa da Série B

17/04/2025 05:20

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Mais do que um clube de futebol, o Internacional de Lages é um símbolo de identidade de lageanos e serranos. Essa instituição, fundada há 76 anos, foi construída não agora ou nos últimos poucos anos, quando voltou a ganhar holofotes, graças a vitórias em campo ou conquistas de títulos na década passada, mas ao longo de décadas.

Foi o esforço coletivo de dezenas de milhares de torcedores, apoiadores, dirigentes, imprensa e figuras de relevo do poder público e da iniciativa privada que deram forma a essa instituição, de profundas raízes em sua comunidade. Não por acaso, em 2012, a Câmara de Vereadores de Lages ratificou a importância do clube para os lageanos ao aprovar, por unanimidade, o projeto que reconheceu o Esporte Clube Internacional como patrimônio cultural do município.

Assim como foi só com a passagem do tempo que o Inter ganhou forma e que moldou seu lastro com a comunidade, tampouco foi no passado recente que surgiram os problemas financeiros que têm prejudicado e mesmo comprometido as atividades do clube. A situação é bastante conhecida.

Ao longo da última década, o Inter fez esforços para se reconstruir dentro e fora de campo. Nos gramados, destacamos a volta do clube à elite do Campeonato Catarinense, em 2014, após 13 anos de ausência, o retorno às competições nacionais, em 2015, o que não ocorria havia quase meio século, a inédita participação na Copa do Brasil, em 2016, e um novo acesso à primeira divisão do estadual, em 2023.

Esses feitos só foram possíveis graças ao apoio da comunidade que deu forma ao clube nos seus 76 anos de existência. Não foram multinacionais ou corporações de outras paragens que contribuíram com recursos e serviços para a existência do clube, e sim empresas e instituições locais, de Lages e cidades da Região Serrana. Além delas, foi a torcida, que contribuiu com a compra de ingressos, a adesão a planos de sócios e, claro, com seu apaixonado apoio, que tornou essa obra coletiva possível até aqui.

Com esses recursos, o Inter construiu sua trajetória tamno passado recente. Ocorre que os recursos do presente destinam-se aos compromissos do presente, mas também do passado, e isso, como se sabe, tem sido um elemento que tem atrapalhado as atividades do clube.

Desde meados da década passada, quando começaram os esforços para a reorganização do clube, os contratempos do passado continuaram a afetar o trabalho do Inter no presente. Assim, o planejamento financeiro de cada temporada, elaborado com muito zelo - e com a participação de representantes da comunidade, e não apenas da direção do clube -, acabou sempre comprometido por despesas não previstas de débitos que o clube contraiu dez, 20 ou mesmo 30 anos antes. Muitas dessas ações são trabalhistas, que representam cerca de 90% dos débitos do clube.

Ainda assim, o clube trabalhou sem ignorar a responsabilidade de cumprir os compromissos do passado e do presente. O Internacional de Lages tem trabalhado incansavelmente para equalizar seus passivos - e as dívidas, não ignoremos, são um quadro que aflige virtualmente todos os clubes do futebol brasileiro. Desde a última década, em esforços para cumprir compromissos passados, a atual direção do clube tem feito de tudo para ajustar as finanças do Inter e ajudar a construir para ele um caminho equilibrado e saudável, em respeito à instituição e à comunidade que ajudou a construí-lo durante mais de 75 anos. Como parte dessas iniciativas, a atual direção pagou mais de R$ 1 milhão em pendências do clube, que gestões anteriores acumularam ao longo de décadas.

Já nesta década, as finanças do Inter sofreram com o choque da pandemia de covid-19: ao longo de duas temporadas, o clube disputou competições sem poder contar com a torcida em campo, que é a grande força para o desempenho dos atletas e, também, com a compra de ingressos e o pagamento de planos de sócios, a principal fonte de receita do clube.

Mas, apesar desses esforços, o Internacional de Lages não tem encontrado na Justiça um clima conciliatório, que permita a reestruturação efetiva do clube. Em vez disso, vê-se sob uma chuva permanente de penhoras de receitas e diante de restrições que tornam inviáveis até mesmo simples medidas administrativas. Agora, depois enfrentar esse quadro ao longo de anos, tornou-se inviável para o clube manter-se nas competições nos termos atuais.

Recentemente, ocorreram 41 intimações judiciais a patrocinadores e potenciais patrocinadores para que eles destinassem as verbas de patrocínio a ações judiciais, o que, na prática, inviabiliza completamente as atividades do clube. O estrangulamento é evidente: o Inter sempre apoiou-se na participação de sua comunidade existir. Como se disse anteriormente, não foram multinacionais ou corporações de outras plagas que contribuíram com recursos e serviços para o clube manter suas atividades, mas sim empresas e instituições de Lages e da região. Sem o apoio financeiro desses entes locais, o Inter não pode contratar atletas e profissionais para disputar competições.

O Internacional só pode honrar compromissos do passado se puder levantar recursos para manter suas atividades. Estrangulá-lo, assim, nos parece que contraria inclusive os interesses dos credores, que, sem o clube na ativa, podem ficar sem a chance de receber o que têm a receber.

Dado que a próxima competição do clube, a Série B do Campeonato Catarinense, começará em menos de dois meses, o quadro atual, decorrente das notificações aos potenciais apoiadores, inviabilizou a participação do Inter. O clube já comunicou a Federação Catarinense de Futebol sobre a decisão.

O Esporte Clube Internacional reitera sua confiança na justiça e seu respeito pelo Poder Judiciário. O clube não deixará de existir nem encerrará suas atividades, e, dentro dos ritos do Estado Democrático de Direito, sendo norteado pela letra da lei, buscará formas de se estruturar para voltar, assim desejamos, em 2026.

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