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Um ato de amor e solidariedade: doação de órgãos é tema de sessão especial

04/07/2025 14:40

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Uma sessão para conscientizar pessoas e valorizar o trabalho que é feito para salvar vidas. Assim pode ser resumida a reunião realizada nesta quarta-feira (2 de julho) no Plenário Nereu Ramos da Câmara de Lages, cuja temática foi a doação de órgãos e que envolveu diversos atores que compõem o ecossistema da causa: gestores, profissionais da saúde, familiares, doadores e transplantados.

Proponente da sessão, Alvaro Joinha (Progressistas) manifestou que há muito tempo desejava promover essa causa. Ele agradeceu ao médico Ricardo Gargioni por tê-lo motivado a abordar o tema e aos demais envolvidos nessa luta. “Não é apenas uma sessão, falamos aqui de pessoas e de vidas. Pessoas que estão ligadas a um aparelho de um hospital, esperando por um gesto, um toque de esperança que pode transformar sua vida. Doar órgãos não exige diplomas ou dinheiro, apenas a necessidade de amar ao próximo”, expressou o vereador.

Joinha sabe que a decisão pela doação de órgãos pode ser um momento triste para a família, mas ressalta que também é uma possibilidade de brotar uma semente de vida e de esperança. “Se a gente conseguir um sim a mais para uma doação, já valeu a pena esta sessão”, disse ele em seu discurso, finalizado com um “Sim”, enquanto doador, diante de seus familiares presentes: sua mãe, Saulita, e filha, Carolina.

Pessoas de boa saúde podem doar rins, medula óssea e partes do fígado e pulmão. Em 2024, o Brasil bateu o recorde histórico no número de transplantes, somando mais de 30 mil procedimentos. No caso das pessoas falecidas, é necessária a autorização familiar, entretanto, cerca de 46% das famílias recusam a doação, sendo esta a principal barreira a ser superada em prol da vida.
 
Coordenador da SC Transplantes fala de sua trajetória e dá uma aula de humanismo

Figura conhecida e muito celebrada na área, o coordenador da Central de Transplantes de Santa Catarina (SC Transplantes), Dr. Joel de Andrade, contou que essa foi apenas a segunda vez, em mais de duas décadas de atuação no setor, que foi convidado a participar de uma sessão da Câmara sobre o tema. Médico intensivista do Hospital Universitário da UFSC, ele elogiou o foco da reunião em ressaltar a importância da doação e da gratidão para com as famílias de pessoas doadoras.

Joel também comemorou o fato de que, somente no mês passado, foram obtidas 37 doações no estado, um dos cinco melhores resultados mensais obtidos nos 25 anos de SC Transplantes. Além disso, em 14 dos últimos 20 anos, Santa Catarina teve os melhores índices do Brasil em doação de órgãos e transplantes, sendo o segundo melhor nos outros seis.

O coordenador da SC Transplantes discorreu sobre sua história na área. Conta ele que recebeu, há 20 anos, a ligação de um emissário do então secretário de Saúde de Santa Catarina, Fernando Coruja, sobre a necessidade de que fosse um médico de UTI a articular o sistema de transplantes no estado. Recusou inicialmente, mas como o antigo coordenador havia sido demitido, ele concordou em ficar por três meses na vaga de modo a contribuir para a organização do sistema.

Um mês depois, Joel foi à Joinville e, em meio a uma reunião, foi informado que havia aparecido o primeiro doador da sua gestão. “Levamos um cirurgião de Joinville, pegamos outro em Blumenau, fomos à Florianópolis e no meio desse caminho foi alugada uma aeronave – algo que nunca havia sido feito no estado – para retirar órgãos de uma paciente de oito anos em Criciúma. Só eram viáveis os rins e estes foram transplantados em duas crianças na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre: uma que viajava três vezes por semana de Modelo à Chapecó para fazer diálise e uma gaúcha. Quando fui visitá-las, dez dias depois, elas estavam urinando normalmente, livres da diálise. No voo de volta, lembro que disse que ficaria mais um pouquinho e lá se vão 20 anos”, relata ele.

Da história, disse Joel, ficaram dois ensinamentos: que a gente passa muito tempo na vida buscando coisas para nós, mas, às vezes, é o tema que nos escolhe; e que as decisões podem salvar muitas vidas – seja a dos gestores, que vislumbraram a necessidade de ser um intensivista a efetuar o serviço, ou às das famílias, que merecem aplausos pela escolha solidária. “No meu trabalho, me envolvi com muitas famílias que têm que enterrar seus filhos. Em meio a maior dor da vida delas, elas lembram que outros pais também podem perder seus filhos se não tiverem órgãos para transplantar. Elas ressignificam essa perda e isso refez todo meu conceito de humanidade”, comenta o coordenador da SC Transplantes.

Os receptores também têm mensagens especiais, afirma Joel, ao citar o primeiro transplantado de fígado do Hospital Universitário. “Ele me disse: ‘Não é que estou vivendo mais tempo, mas sim, os melhores anos da minha vida’. Ou seja, nesse tempo extra, ele aprendeu a viver”. Joel ainda ressaltou que, mais importante do que o trabalho da SC Transplantes, é o serviço realizado pelos coordenadores de transplantes de cada hospital por se envolverem, desenvolverem empatia e criarem um ambiente positivo para estimular o sentimento de solidariedade às famílias enlutadas em um momento tão crucial. “Esse profissional é capaz de realizar milagres. Nós da Central apenas distribuímos a riqueza solidária que derivam destas instituições”, afirmou, humildemente.
 
Hospitais têm oferecido acolhimento e apoio às famílias para que optem pela solidariedade em seu momento de dor e luto

Presidente do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, dr. Ronny Albert Westphal destacou a importância da “Sala da Vida”, um local reservado dentro do HNSP que presta apoio psicológico e acolhimento à família enlutada, tiram dúvidas e esclarecem as circunstâncias sobre a doação. Ele se mostrou grato e orgulhoso pela sua instituição atuar junto à SC Transplantes, responsável, segundo ele, por fazer com que Santa Catarina tenha números impressionantes na área. “Se fossemos um país, seríamos o terceiro no mundo em eficiência. E os méritos são da equipe do doutor Joel, que modernizou, conectou, fortaleceu e desenvolveu um modelo nacional na captação de órgãos. São pessoas especiais que dedicam suas vidas a um bem maior que suas ambições pessoais, ao aprimoramento e evolução dos horizontes da humanidade”.

Cirurgião do HNSP, Henrique Waltrick de Albuquerque aponta que o serviço de doação e captação de órgãos e transplante é um dos mais transparentes e organizados no Brasil. Para ele, a sessão é uma maneira de informar e encorajar mais pessoas a aderirem à doação. “Temos que compartilhar o conhecimento e desmistificar o tema nas escolas, igrejas, clubes e nas nossas relações sociais. Na medicina, a gente aprende que o tempo é um fator decisivo para muita coisa e para quem aguarda um órgão cada segundo conta. Precisamos transformar informação em ação e esperança em realidade”, afirma.

Coordenador da Comissão Hospitalar de Transplante do Hospital Tereza Ramos, o enfermeiro Volnei Bastos Junior ressaltou a contribuição que uma sessão como esta oferece à causa. Também elogiou e agradeceu pelo esforço e qualidade do serviço prestado pela Central de Transplantes de Santa Catarina. Sobre o trabalho de sua equipe, ele conta que todo o hospital se empenha quando acontece uma movimentação de captação. “É encantador trabalhar com esse serviço, pois não se trata apenas de uma doação, são várias histórias de vida impactadas por um único gesto”.
 
Lages busca credenciamento para também realizar transplante de órgãos

Secretária municipal da Saúde, Susana Zen trabalhou como enfermeira nos três hospitais que fazem a captação de órgãos na cidade (HNSP, HTR e o Seara do Bem). Ela relata que, muitas vezes, chorava pela perda do paciente, mas que isso era superado pela alegria em saber que aquele órgão chegaria a um paciente à espera de ser transplantado. A gestora disse que Lages está se credenciando junto à SC Transplante para que possa ser habilitado a também realizar transplantes e não apenas a captação de órgãos. “Quando a gente sabe que fez a diferença na vida de um paciente é um sentimento inexplicável, que se carrega para toda a vida”.

O médico oftalmologista José Luiz Branco Ramos é chefe do setor de transplantes de córnea no Hospital de Olhos da Serra. Em 2023, ele efetuou o primeiro transplante de sua área da região serrana. Agora o hospital ao qual é vinculado está em tratativas com a SC Transplantes para disponibilizar esse recurso via SUS. “O transplante de órgãos transcende a relação médico-paciente, pois depende de mais uma pessoa, do sim de uma família. Hoje temos 543 pessoas aguardando uma córnea no estado e uma doação ajuda duas pessoas”, explica.
 
Um doador pode salvar até oito vidas

Também um transplantado renal, o vereador Éder Santos (Podemos) homenageou sua mãe, Eliane Aparecida dos Santos, por lhe dar educar – sozinha – e ainda por lhe doar um rim. Foi sua mãe que o levou ao médico e pagou a consulta na qual descobriu que seu rim estava funcionando só a 7% da capacidade. “Precisei fazer hemodiálise, coloquei um cateter no pescoço, passei por muita restrição alimentar e de líquidos, pensei que ia morrer. Via minha mãe chorando, minha ex-mulher e amigos sofrendo, fui de 110 para 70 quilos. Queria tomar sorvete no verão, queria tomar água e não podia. Molhava a boca e precisava cuspir porque não podia beber. Eu brigava com Deus porque eu não entendia porque eu precisava passar por isso. Mas aprendi que para aproveitar as coisas boas, a gente precisa passar pela fase ruim. Minha mãe foi muito positiva, falou que seria minha doadora e, insistente como é, brigou para conseguir isso. Então eu mato e morro por essa mulher e vamos seguir juntos até o fim”, contou o edil, muito emocionado.

Representante das mães de doadores que dizem “Sim”, Márcia Rute Correa relata que perdeu sua filha em 2020, quando ela tinha 24 anos. “Minha filha foi uma benção em minha vida e sei que ela foi uma benção para outras famílias. Faço um pedido a todos que conversem com seus familiares, falem de seu desejo pela doação. Sei da importância que isso tem para a vida de alguém”.

Ivana Paulina Barbosa é presidente do grupo “Somos Fênix”, uma ONG que presta apoio aos pacientes de patologias crônicas pré e pós-transplante, além de ser transplantada de órgãos sólidos e tecidos. Ela relatou o quão angustiante é a incerteza da espera por um órgão, mas, por outro lado, evidenciou a alegria que é receber a notícia da doação. “É uma emoção muito grande a gente saber que tem uma pessoa que vai salvar nossas vidas. Se dez pessoas forem impactadas pelo meu depoimento, até 80 vidas podem ser salvas. Hoje são 78 mil brasileiros que aguardam na fila por um sim. Por isso, doe órgãos e salve vidas”, conclama.
 
Fotos: Bruno Heiderscheidt de Oliveira (Câmara de Lages)
 
Everton Gregório – Jornalista
Comunicação – Câmara de Lages
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