PONTO DE VISTA
O elogio na política de SC
Muitos catarinenses culpam a política pelos problemas pelos quais passamos. Isto não é verdade absoluta porque a política não é autora de todos os problemas. Porém, de fato, poderia ser autora de muito mais soluções - e isto já seria outra coisa. Mesmo porque a política que é feita por pessoas da mesma sociedade, em regime democrático, é por isso dela também reflexo. Assim, poder-se-ia, com mesóclise e tudo, afirmar que se SC é um bom estado, um dos melhores - senão o melhor do Brasil - nossa classe política não poderia ser ruim. Ao contrário, teria que ser boa na mesma proporção. Eu não teria dúvida ao incluir São Paulo, mais rico do que toda a Argentina, neste raciocínio, ou Goiás, que ombreia com SC como estado menos desigual do Brasil.
Na minha infância ouvia, pejorativamente, que Santa Catarina nada mais era do que o marco zero da BR-101. Nos últimos 40 anos isso mudou. E nos governos que vi passar, vi progresso. Konder Reis, com as estradas, deu sequência à saga de Victor Konder, que chegou a Ministro da Viação. O mesmo com Jorge Bornhausen, que recebeu do pai, Irineu, o legado de ter sido o primeiro a planificar as atividades públicas estaduais.
Esperidião Amin trouxe uma inovação também simbólica, criando a consciência de valor dos pequenos na gente catarinense. Com Vilson Kleinübing veio a cartilha racional para liberar o empreendedor do peso do Estado. Pedro Ivo e Casildo Maldaner abririam o ciclo de governantes da redemocratização para o jovem Paulo Afonso, que realizou - mesmo diante das dificuldades. E Luiz Henrique, que criou uma era de desenvolvimento, trazendo de volta a excelência de grande estrategista que fora Celso Ramos, das histórias que ouvi do professor Alcides Abreu.
Com Luiz Henrique continuado por Eduardo Moreira, Leonel Pavan e Raimundo Colombo, houve um amadurecimento de SC como um Estado mais integrado, mais internacional, mais inovador.
É muito raro pensar num artigo que elogie políticos. E, mesmo assim, não faria justiça a tantas outros que ajudaram o povo catarinense a cumprir seu destino de grandeza, como Hercílio Luz, o engenheiro florianopolitano que construiu os alicerces de SC entre o final do século 19, início do século 20. Ou como Nereu Ramos, que chegou à Presidência da República, e o visionário Jorge Lacerda.
Escrevo este artigo com o claro propósito de restabelecer a lógica relação entre esses governos e seus esforços bem-sucedidos de espelhar o desejo de desenvolvimento do extraordinário povo de nosso Estado. Eles não foram perfeitos, não.
Mas neste momento em que vivemos uma era de insatisfação com tudo e com todos devemos elogiar nossos heróis imperfeitos. Em SC, a crítica deve servir para avançar mais, não para retroceder. Elogiar faz parte da gestão e da construção do nosso futuro. Assim saberemos o que queremos e não queremos, saberemos de onde viemos e para onde vamos.