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Valha-me Santa Bárbara

20/08/2025 20:06

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É muito comum em nossa região que, para se proteger de uma tempestade, é bom invocar Santa Bárbara. Quem cresceu ouvindo histórias de avós sabe bem: colocar um machado fincado no chão na direção em que vem a tempestade, queimar ramos santos, acender uma vela para a santa. A imagem da santa, segurando seu castelo e um raio, acalma os ânimos diante do trovão que estremece a casa. É um ato de fé, um pedido de proteção contra as forças incontroláveis da natureza. Mas, se no céu pedimos ajuda da santa, aqui na terra, no asfalto molhado, quem precisa proteger mesmo são os motoristas. Porque basta chover para que a paciência desapareça e o trânsito vire uma espécie de teste de fé.
No entanto, parece que muitos motoristas, ao entrar no carro em dias de chuva, invocam um santo completamente diferente: o São Pressinho, padroeiro das ultrapassagens arriscadas e da falta de paciência. Como pode, a mesma chuva que provoca orações, parece que inspira os condutores a fazerem ações completamente loucas em dias de chuva. Tem sempre aquele que acha que pode “cortar caminho” fechando os outros, o que acelera como se o carro fosse um anfíbio, e, claro, o clássico: quem esquece de ligar o farol, mas lembra de buzinar como se fosse milagre abrir caminho. A fé em Santa Bárbara para acalmar a tempestade lá fora é grande. Já a fé no próprio reflexo, no freio antigo e na lei da física, é absolutamente inabalável – e profundamente equivocada. Segundo dados do Observatório Nacional de Segurança Viária, o número de acidentes pode aumentar em até 40% durante ou logo após períodos de chuva. A água acumulada causa um fenômeno perigoso chamado aquaplanagem, onde os pneus perdem o contato com o solo e o motorista fica totalmente sem o controle do veículo. Não há santo que evite isso, mas existe uma simpatia capaz de resolver este problema: respire três vezes profundamente antes de ligar o carro, uma dose generosa de paciência e, quem sabe, um potinho de bom senso no porta-luvas. Afinal, Santa Bárbara pode até nos proteger do raio, mas ela não vai segurar o carro que desliza porque alguém ignorou a distância de segurança.
No fim das contas, a verdadeira proteção não vem do céu, mas de uma atitude consciente aqui na Terra. Podemos continuar invocando Santa Bárbara para acalmar as tempestades – é um conforto poético e cultural lindo. Mas no trânsito, o único milagre que precisamos é o da consciência coletiva. O trânsito, mais cedo ou mais tarde, flui. O importante é que todos cheguem em casa em paz, sem precisar de intervenção divina para explicar o amassado no para-choque.

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