SNT, que palavrão é isso?

' ' : ' '
Estamos em setembro, mês da interdependência de nossa pátria. Mas além desta importantíssima comemoração, devemos ter atenção em outra data, que nos lembra o espaço mais democrático que temos em nossa sociedade, o trânsito. A forma a Semana Nacional do Trânsito (SNT), é um bom motivo refletirmos para onde caminha nossa sociedade.
Mas quando falamos em trânsito no Brasil, imaginamos logo o caos das grandes cidades e os barbeiros das pequenas. Mas, por trás dessa cena cotidiana, existe uma história curiosa — e às vezes frustrante — sobre como o país tratou a educação para o trânsito.
Começamos em 1966, com o primeiro Código Nacional de Trânsito. A Educação era tímida: apenas algumas campanhas educativas. E só. Ficava parecendo aqueles regimes que a gente faz em janeiro: começa animado, mas sem compromisso real. Resultado: quase ninguém levou a sério.
Três décadas depois, em 1997, veio o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Promessa de revolução: um capítulo inteiro dedicado ao tema, artigos bonitinhos sobre escolas, campanhas e formação de condutores. SQN... esqueceram um detalhe essencial: explicar o que era, afinal, “educação para o trânsito”. Sem um conceito claro, cada órgão, cada especialista e até cada cidade interpretou de um jeito. Foi como entregar uma receita sem lista de ingredientes.
Na prática, o que mais funcionou foram iniciativas paralelas. Nos anos 70 e 80, a Polícia Rodoviária Federal e o antigo DNER tentaram o famoso tripé das “3 Es”: Engenharia, Esforço Legal e Educação. Eram campanhas, mutirões e até parcerias. Mas nada que criasse cultura de fato.
Quem realmente sacudiu o tema foi a iniciativa privada. Em 1987 nasceu o Prêmio Volvo de Segurança no Trânsito, que premiava ideias, pesquisas e projetos inovadores. De repente, falar de trânsito virou coisa séria, com empresários, professores e jornalistas entrando na pauta. Enquanto o setor público tropeçava em burocracia, a iniciativa privada mostrava que engajamento era possível.
O Brasil até surfou na onda da Primeira Década Mundial de Ações pela Segurança Viária (2011–2020), proposta pela ONU. Mas, convenhamos, a participação foi discreta. Quem puxou o debate por aqui foram movimentos como o Maio Amarelo e o Observatório Nacional de Segurança Viária. Mais uma vez, a sociedade civil correu na frente.
E aí chegamos ao ponto crucial: não dá para apostar apenas na multa e na fiscalização. Como já disse um estudioso do assunto, trânsito seguro depende de equilíbrio entre educação e fiscalização. Só o “medo da multa” não sustenta mudanças culturais.
Em resumo: o Brasil já produziu boas ideias, mas peca em continuidade. Educação para o trânsito não é campanha de uma semana em setembro, é aprendizado constante. Talvez devêssemos parar de tratar o assunto como “projeto piloto” e encarar como uma verdadeira e importante política de Estado.